Simpósio de Biomecânica reuniu pesquisadores, designers e empresários do setor de calçados

Simpósio de Biomecânica reuniu pesquisadores, designers e empresários do setor de calçados

Uso da nanotecnologia na produção de calçados e trabalho em conforto foram os destaques




Foto Lubeka

Em dois dias de discussões (27 e 28 de abril), o IX Simpósio Brasileiro de Biomecânica do Calçado, realizado pelo Instituto Brasileiro de Tecnologia com Couro, Calçados e Artefatos – IBTeC – em parceria com a Universidade Feevale, analisou com pesquisadores, designers, técnicos de desenvolvimento e empresários do setor coureiro-calçadista os avanços tecnológicos em materiais e processos para a produção de calçados com conforto.

Entre os palestrantes internacionais, o alemão Ewald Hennig, doutor em Saúde e Educação Física, falou sobre “Métodos e resultados de pesquisas em calçados de corrida e futebol”. Hennig foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento das chuteiras usadas pelo jogador Crsitiano Ronaldo, do Real Madrid, por exemplo. O cientista mostrou como métodos biomecânicos são essenciais para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de calçados esportivos, e apresentou tecnologias de medição para a produção de calçados para a prática de corrida e futebol. As pesquisas apresentadas são resultado de trinta anos de estudo para produzir calçados que previnam a produção de lesões na prática destes esportes.
Foto Protfort

O sueco Stefan Grau, doutor em Biomecânica, Ciências do Movimento e Ciências do treinamento, falou sobre “Implantação de scanners de pé dinâmicos (com luz estruturada) para melhorar a montagem de calçados de segurança”. O palestrante apresentou o método da digitalização dinâmica, solução que melhorará o ajuste dos calçados de segurança, como forma de proporcionar mais segurança e conforto aos usuários destes calçados.

Ainda falando de calçados esportivos, o Dr. Darren Stefanyshyn falou sobre a importância dos calçados de tração para a prática de esportes específicos e como a tração influencia na avaliação de lesões na prática de esportes, afetando o desempenho do atleta.

“Coordenação motora dos membros inferiores e tipo de pisada na corrida” foi o assunto abordado pelo doutor em Educação Física Luis Michizuki.  O palestrante mostrou que o tipo de calçado usado na corrida pode afetar a colocação do pé no chão, e pode causar lesões ou afetar o desempenho esportivo.
Foto Fiesp

A doutora em Educação Física  Isabel Sacco falou sobre “Integração cientifica na indústria – o papel da biomecânica na construção de calçados esportivos”. O aumento do número de pessoas que vêm praticando a corrida recreacional, como parte do conceito de qualidade de vida, tem aumentado também o número de lesões. O número de lesões não reduziu na mesma medida em que as tecnologias de construção de calçados esportivos evoluíram. Esta realidade pode estar relacionada ao volume semanal de treino, aos desvios posturais, ao piso selecionado para a prática da corrida, e ao tipo de calçado esportivo. O papel da pesquisa biomecânica neste cenário é aproximar o desenvolvedor de calçados esportivos da principal finalidade de seu produto e buscar que as escolhas de materiais e características físicas dos calçados tragam melhora na performance esportiva e/ou reduzam o risco de lesões nestes atletas. O conhecimento sobre como estes fatores interferem na mecânica do aparelho locomotor, poderá minimizar a ocorrência de algumas lesões em atletas e a investigação biomecânica, aliada aos setores da indústria calçadista são atores primordiais nessa busca para a melhora das condições esportivas.

O impacto da nanotecnologia em vários setores industriais, com o surgimento de novos materiais, novas propriedades e novas soluções, foi o tema da palestra do doutor em Química, professor do Instituto de Química da Unicamp, Oswaldo Luiz Alves. O que vem sendo feito para criar novas soluções em nanomateriais para modificar o desempenho, o peso e a durabilidade dos calçados foi um dos aspectos abordados na palestra. A expectativa do professor é de que a  partir de 2018 teremos inovações radicais a partir de nanossistemas.  Algumas experiências já vem sendo feitas em alguns laboratórios do mundo.  Para o setor calçadista, o palestrante vê a possibilidade de substituição do couro por novos materiais, feitos a partir de nanocompósitos. Também existe a possibilidade do surgimento de elementos de conforto nestes materiais, como barreira contra umidade, elementos térmicos, inibidores do crescimento de microrganismos, proteção contra o calor, contra o frio.

Para a matéria-prima couro, o professor prevê o surgimento de produtos que melhorem processos de curtimento, com acabamento a partir  de nanopartículas que agem como antibactericidas, por exemplo, além de propriedades de autolimpeza, tudo a partir da nanotecnologia.

O couro e os materiais que substituem o couro poderão ainda ter acabamentos com propriedades oleofóbicas (que repelem o óleo que venha a cair sobre a superfície do calçado), ou ter sistemas antibacterianos, evitando o cheiro nos calçados e nas roupas de couro. 

A tecnologia nano poderá ainda proporcionar a construção de calçados com materiais extremamente suaves e macios, para a realização de esportes específicos.

Os calçados de segurança poderão ter mais resistência a componentes químicos, por exemplo, tudo a partir destas novas tecnologias.

Sem contar a eletrônica embarcada nos calçados, como um sistema de produção de energia para carregadores e baterias de celulares e iphones, botas militares com dispositivos que funcionem como rádio, GPS e telefones. A nanotecnologia já está propiciando a introdução de GPS em calçados  para auxiliar pessoas com problemas como Alzheimer, que se perdem de seus familiares, além de sensores que detectam obstáculos à frente do usuário, para auxiliar deficientes visuais, por exemplo.

Entre os novíssimos materiais que já estão sendo usados para a produção de calçados, segundo o professor Oswaldo Luiz Alves, estão os nanotubos de carbono, altamente resistentes e leves, para  produção de saltos e chuteiras, e o grafeno, 200 vezes mais resistente que o aço,  para a produção de sapatilhas de ciclismo.  O professor falou ainda da impressão 3D, que está modificando totalmente a área de materiais, e que deverá impactar fortemente sobre a produção de calçados – ele acredita que a impressão em 3D vai propiciar a produção de partes dos calçados, atuando também sobre a criação, porque vai propiciar a produção de sapatos únicos.
Foto Estival


“Os efeitos do envelhecimento na biomecânica da corrida” foi o assunto abordado pelo Dr. Reginaldo Furuchi, fisioterapeuta do esporte, professor universitário e sócio fundador da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva. Ele lembrou que a busca de uma melhor qualidade de vida tem despertado interesse por atividade física, especialmente a corrida de rua, em pessoas de todas as idades, inclusive as idosas, Com isto, as lesões musculoesqueléticas têm sido frequentes. O envelhecimento biológico resulta em alterações estruturais e funcionais que podem predispor estes indivíduos a lesões. Na palestra, o professor mostrou as principais alterações da biomecânica da corrida associadas ao envelhecimento, e os cuidados que precisam ser observados por quem quer se dedicar aos esportes.

O desenvolvimento de palmilhas para a prática esportiva foi o tema do CEO da indústria espanhola Flexor, Alexis Granero. Ele mostrou os produtos desenvolvidos pela empresa, que buscou o conhecimento da biomecânica do pé, o estudo do movimento durante a pratica esportiva, para desenvolver palmilhas para atender esportistas de diferentes modalidades.

“Aplicações da termografia – imagem por infravermelho – câmera térmica usada na análise do calor emitido pelo corpo e consequente inferência da temperatura”, foi o tema da palestra do Dr. Milton Zaro, pesquisador do IBteC. Ele falou sobre as aplicações da termografia nos setores industriais, na Medicina do Trabalho e na Medicina do Esporte. O uso da termografia para detectar problemas de saúde e lesões foi o tema do Dr. Zaro, que lembrou que esta tecnologia ainda é pouco reconhecida pela Medicina, mas deverá ser uma forte aliada no futuro.

Já o Dr. Aluisio Avila, diretor do Laboratório de Biomecânica do IBteC, falou sobre o trabalho de 16 anos do instituto na área de conforto, fazendo uma análise das medidas dos pés em diferentes regiões do mundo, e sobre o trabalho do instituto para contribuir com as indústrias de calçados na busca de conforto.  As substâncias restritivas, que ganham leis cada vez mais rígidas em diferentes lugares do mundo, deverão ser a preocupação das indústrias de calçados no futuro próximo, alertou o professor.

Para o designer Victor Barbieratto, que falou sobre “Situação do Brasil perante o mundo em design, tecnologia e conforto de calçados”, a tendência é de que no futuro se use cada vez menos componentes para a produção de cabedais, que serão em peça única, como forma de diminuir custos, e melhorar a qualidade da construção. A eliminação de processos é uma tendência que deverá se aprofundar, acredita o palestrante. O solado deverá se transformar em peça única, como forma de evitar problemas e colagem e fixação, e o cabedal deverá ser cada vez mais unificado em poucas peças, também como forma de baratear o processo de produção. 
O conforto será cada vez mais valorizado, e os calçados cada vez mais darão a sensação de vestir, e o peso dos produtos será cada vez menor. Neste momento de crise mundial, há uma tendência minimalista que deverá se consolidar, para disfarçar uma redução de custos que deverá gerar impactos permanentes na produção e criação de calçados, acredita Babieratto.

“Conforto em calçados” foi o tema desenvolvido pelo Doutor em Biomecânica Rudnei Palhano, que também faz parte da equipe do IBteC. Ele falou de como o desenvolvimento de novas técnicas para quantificação do conforto tem sido impulsionado pela exigência do consumidor em utilizar produtos certificados e confortáveis. Diante disso, o laboratório de biomecânica do IBTeC ao longo dos anos, além de desenvolver normas para a determinação dos níveis de conforto, tem focado pesquisas no entendimento do pé e do calçado no que se refere a suas características durante o movimento humano. Estas pesquisas têm determinado que a morfologia dos pés pode interferir no comportamento das cargas na superfície plantar. O palestrante mostrou ainda que os materiais utilizados no solado podem influenciar significativamente a absorção dessas cargas.

“Arquitetura e propriedades mecânicas musculares aplicadas ao calçado”  foi o tema apresentado pelo Dr. Rafael Baptista da PUC-RS, abordando principalmente os efeitos de encurtamento muscular em mulheres provocado pelo uso contínuo de calçados de salto alto. 

Fonte abicalcados